8.12.08

MUSICA PARA LER - parte 1

Alguns livros que eu li e outros que ainda não tive tempo de ler, mas que contar um pouco da história de algumas cenas musicais.Importantes pra quem quer estar mais informado.

DIAS DE LUTA (Editora DBA, R$ 43,00)


Escrito por Ricardo Alexandre ( repórter, crítico e editor) ele investiga a cena rockeira nacional dos anos 80,considerada a mais produtiva de todas
Livro jornalístico fantástico, com aquele tom de matéria bem pesquisada e escrita, cheia de citações e contextualizada apropriadamente.
Contém centenas de curiosidades, depoimentos, fatos e explica como surgiu a cena pop que dominaria as rádios, os corações e as mentes dos jovens dos anos 80: Blitz, Paralamas, Legião, Capital, TItãs, Ira!, RPM, Lulu Santos, Lobão, Kid Abelha, Cazuza, Barão Vermelho, Ultrage a Rigor, Camisa de Vênus, Engenheiros do Hawai… passando pelos Ratos de Porão, Inocentes, movimentos undergrounds e montagens… até as origens do Sepultura (no final da década) - e como eles se relacionavam (ou não) com os headbangers brasileiros… enfim, a importância do Lira Paulistana, das rádios, dos Selos, das Casas de Show e das Danceterias. Mesmo para quem não é fã dessas bandas, vale a pena dar uma arriscada.


OS SONHOS NÃO ENVELHECEM: histórias do clube da esquina (2002, Editora Geração, R$39,00)

"um livro pra quem gosta de música, pra quem gosta de história, pra quem gosta de sonhar.
"

Um dos fundadores do movimento da música mineira, que surgiu nos anos 60 e invadiu os anos 70, Márcio Borges nos conta, com muita delicadeza, a história desse grupo de jovens que criou uma forma diferente de fazer música, num período já muito fértil do ponto de vista da criatividade musical no Brasil. Teria sido muito fácil seguir um caminho aberto pela bossa nova ou aderir a algum novo movimento musical como o tropicalismo ou a jovem guarda. Mas os mineiros tinham uma coisa especial dentro de si. Uma coisa nova. Diferente.

O livro nos conta, sobretudo a história de Milton Nascimento, o Bituca. Ele foi o grande artífice desse movimento. Mostra como o processo de criação operava naquele ambiente e mostra toda a genialidade desse artista. Fala da forma revolucionária que ele utilizava pra compor e criar. Mostra aspectos importantes de sua personalidade sem se ocupar com fofocas ou questões pessoais que não sejam relevantes para o processo de criação do artista.

É muito prazeroso acompanhar as histórias da composição de algumas músicas muito conhecidas como Travessia, Paula e Bebeto, Clube da Esquina e Vento de Maio. Além de Milton, pode-se acompanhar o início da carreira de músicos e compositores importantes como Wagner Tiso, Toninho Horta, Beto Guedes e Lô Borges.

Tendo sido o primeiro parceiro de Bituca, Márcio Borges mostra bastante generosidade e humildade ao reconhecer o talento e até alguma superioridade em outros dois parceiros muito importantes de Milton Nascimento; Ronaldo Bastos e principalmente Fernando Brant. É possível, conforme se desenrola a história, perceber o quanto esse letrista é genial. A cada passagem do livro envolvendo Fernando Brant, extrai-se uma obra prima. E além de um parceiro criativo, Ronaldo Bastos revela-se também muito importante na produção de discos e shows de Milton Nascimento.

O livro é delicioso. O autor consegue nos transportar para cada lugar e cada época[,] nos proporcionando intimidade. Desvenda a Belo Horizonte do regime militar e revela a família tipicamente mineira. Oferece, sobretudo a sua família, abrindo as portas da casa dos Borges, pra que consigamos entender mais facilmente o ambiente em que aquela criatividade toda pôde ser extravasada.

Um comentário:

Nerd disse...

Eis que descubro esse preciso blog, muito bem sacado e com sacadas muito bem postas!

Poizé, sempre sinto uma ausência verbal, midiatica e histórica em relação à música pop mineira, talvez pela cisão antipática entre o Triângulo e o resto de Minas.

Me parece mais que justo, até mesmo necessário que haja discussões regulares ( pode ser em banco da praça ou num trajeto de ônibus mesmo) sobre isso, pois se o lucrativo e popular Clube da Esquina precisa de ser "resgatado" ocasionalmente, o que dizer das manifestações musicais daqui do Cerrado?

Curiosidade, é um defeito horrível para quem pensa em monoblocos, mas a verdade, é que a vida é feita de Legos.

Falô!